sábado, 23 de janeiro de 2016

Gelatina: boazinha ou vilã



Mais uma vez o poder da indústria sobrepõe-se aos interesses do cidadão, sim é verdade, pelo menos em 11%.
Já se perguntaram o  porquê de toda a gente recomendar que toda a gente deve comer gelatina, sim todos desde os mais novinhos nas suas festas até aos mais idosos com as suas dificuldades de locomoção.

A Gelatina incolor  é um alimento aceitável embora processado, é extraída do colagénio bovino ou suíno  algo que não vem descriminado no rótulo. É uma mistura heterogénea de polipeptidos obtida através de hidrólise parcial do colagénio apartir de tecido conjuntivo de animais por meio de processos ácidos ou alcalinos. (Zhang at al,2009)



Quando esse colagénio é submetido a um destes dois  processos referidos anteriormente ou então por aquecimento de águas, as suas estruturas fibrosas de colagénio partem-se irreversivelmente formando então a Gelatina. Durante esta transformação ocorre a repartição das articulações cruzadas entre as cadeias polipeptídicas. (Yang at al, 2007)



A Gelatina acaba por ser uma proteína derivada da tal hidrólise parcial do colagénio que é como sabem o principal constituinte da pele de animais, ossos, tendões e tecido conjuntivo. É composta por 18 aminoácidos distintos, unidos por ligações peptídicas na formação da molécula dependendo do grau de hidrólise do colagénio.
Tem como uma das suas características muito interessantes , o facto de ter um alto teor em glicina, hidroxina e prolina.

Quando se fala de elementos básicos, a Gelatina é composta por 50,5% de carbono, 6,8% de hidrogénio, 17% de nitrogénio e 25,2% de oxigénio.
Como consequente produto do colagénio, a Gelatina pode ser  adequadamente classificada como uma derivada da proteína. Tem as mesmas reacções péptídicas de uma proteína e é hidrolizada pela maioria das enzimas proteolíticas.

Este hidrocoloide dissolve-se completamente na boca, é natural, não tem número E na Europa, não é produzido com materiais geneticamente modificados, é uma proteína pura sem gorduras e sem hidratos, cria um gel 100% termorreversível, é um ingrediente multi-funcional,
Consoante a sua utilização na indústria, pode ser feito segundo as necessidades como tamanho de partículas, força do gel, viscosidade. Pode ser fácil de usar e aplicar, não requer correcção de PH nem a presença de sais e açúcar.

 Podemos encontrar Gelatina  nas gomas, caramelos, pastilhas, chupas, como em carnes e enchidos embalados. Na industria farmacêutica podemos encontra-la em comprimidos e cápsulas duras e moles, em supositórios, etc.
 Também a cosmética reclamou este composto assim como para a fabricação de filmes e papeis fotográficos.

Como vemos existe uma extensa panóplia de utilizações dadas a esta incrível substância, que desde finais dos anos 60 ao que parece já era comercializada na Holanda.
Agora, poderia-mos ficar aqui durante algum tempo a falar sobre os benefícios da Gelatina que teria-mos assunto para várias horas eu sei, mas será que aquilo que toda a gente diz a toda a gente para comer e que por acaso também se chama gelatina, tem os mesmos benefícios ?!
Tenho as minhas dúvidas...

Experimentem fazer um exercício muito simples até para os mais leigos ou despreocupados, experimentem olhar para o rótulo de uma caixa de gelatina e ler os dois primeiros ingredientes que estão escritos. Sim, ainda só estou a falar dos dois primeiro, não precisam saber quais vêm a seguir para perceber que o que estão a comer pode ser várias coisas mas quanto a Gelatina, continuo com algumas dúvidas, a sério.
Para vos poupar algum trabalho aqui em baixo têm um rótulo de uma determinada marca de gelatina com apenas 10kcal, fonte de vitamina C, com baixo valor energético, maravilha !



Pergunta, como é que uma coisa que só tem apenas 11% de um determinado ingrediente pode adquirir esse nome?
Resposta, possíveis factores comerciais ou algo parecido..

Como sabem, quando lemos um rótulo automaticamente sabemos que o primeiro ingrediente é aquele que existe em maiores quantidades nesse determinado produto certo. Então porque não chamar a este produto açúcar em vez de gelatina visto ser esse o ingrediente em maior quantidade?

Pois, possivelmente não se venderia tanto, não estou a ver uma nutricionista a recomendar a um paciente que coma açúcar depois do jantar caso a fome aperte.
Ou pedirmos como sobremesa no final de um jantar naquele restaurante, "...senhor, traga-me uma taça de açúcar de tuti-fruti por favor"

Bem, eu sei que vocês são super inteligentes e que não se vão deixar enganar nunca mais, mas mesmo assim gostava de vos mostrar alguns dos outros ingredientes que estão no rótulo do açúcar, ups perdão, da gelatina que estão a dar aos vossos filhos.
Pois, fui ver e não reparei em nada de interessante, apenas reguladores de acidez, corantes e aromas, sim nada de importante.

Se na capa da embalagem tiver fotos de fruta, estar escrito que sabe a fruta, não quer dizer que tenha fruta na sua composição.
Mas por outro lado, se sabe a fruta, tem cor de fruta mas não leva fruta, bem o que será então ?!
Mais um mistério...

Portanto, o que temos é uma combinação de 14,5g de açúcar sacarose por dose mais uma série de....coisas, além do mais todos sabemos as implicações do elevado consumo de açúcar e as doenças cardiovasculares , assim como as consequências na saúde das crianças quando esse consumo se torna diário e sem regras.

Agora pensem comigo, se a ideia da nutrição é nutrir, porque não fazer a coisa de uma outra forma.
Porque não fazer a combinação com verdadeiros ingredientes.

Esta é a minha ideia de Gelatina,



Folhas de Gelatina incolor
Morangos
Água
Açúcar de coco
Amor



Conclusão:

A ideia é alertar para algumas situações em que pensamos estar a fazer o bem à nossa saúde e principalmente à saúde dos nossos filhos e na verdade estamos a piorá-la sem que nos aperceba-mos disso.
Das duas uma, ou experimentamos de vez em quando ler os rótulos do que comemos ou simplesmente comemos comida que não necessita de ter rótulos.
Comam comida de verdade mais vezes, a saúde agradece.

Bem Haja






Referências:

- Gelatin Manufacturers Institute of América (GMIA). 2001. [Internet]. New York : Gelatin Manufacturers Institute of América inc. Available from: http//www.gelatin-gmia.com.

- Gelatin Manufacturers of Asia Pacific (GMAP). 2005. [Internet]. Gelatin Manufacturers of Asia Pacific Available from: http//www.gmap-gelatin.com

- South American Gelatine Manufacturers Association (SAGMA).2004 [Internet]. São Paulo : South American Gelatine Manufacturers`Association. Available from: http//www.sagma-gelatina.com.

- Gelatin Manufacturers of Europe (GME). 2011. [Internet]. Brussels : Gelatin Manufacturers of Europe . Available from : http//www.gelatine.org/en.html.

- Nhari, R. M. H. R. , iSMAIL, A. and Che Man, Y. B. (2012), Analytical Methods for Gelatin Differentiation fromBovine and Porcine Originsand Foods Products. Journal of Food Science , 77: R42-R46.

- Jacobson, R. E. 1967. in Photographic Gelatin II, R. J. Cox, ed. Pp. 233-252, Academic Press, London

-Smith, C. R.. 1921. J. Am. Chem . SOC., 43: 1350.


5 comentários:

  1. Extenso, é verdade, mas super completo. Parabéns!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado Carlos, o assunto é complexo e ficou tanto por dizer.
      Obrigado por seguir o Blog

      Bem Haja

      Eliminar
  2. Extenso, é verdade, mas super completo. Parabéns!

    ResponderEliminar
  3. Excelente!
    Álvaro, e a gelatina do Celeiro? Creio que não tem glícidos...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bom dia, o Celeiro e as lojas do género têm nas suas prateleiras uma série de produtos por isso torna-se difícil saber de que gelatina estamos a falar. Creio que o mais importante seja mesmo no acto da compra dar uma vista de olhos no rótulo e perceber se o primeiro ingrediente é açúcar ou outro adoçante. Ou se está a ser utilizado alguma goma como o Agar Agar ou Goma Xantana, entre outras coisas. Obrigado por seguir o Blog.

      Eliminar