quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Dieta Paleolítica na Diabete Tipo II

Provavelmente muitos de vocês ainda não sabem bem o que é a "Famosa Dieta Paleolítica" ou "Paleo Diet", pelo que de uma forma simples e objetiva vou tentar explicar.
É importante também perceberem que, entretanto, não existe uma só dieta paleolítica, mas várias, dependendo do local onde habitavam.
Se vivessem nas florestas então a principal fonte de alimento era a caça, mas se vivessem no litoral ou junto a rios, era da pesca que se alimentavam.
Por exemplo, em sítios como o circulo Polar Ártico durante meses não havia vegetais disponíveis, em algumas ilhas do Pacífico o coco chegava a compor mais de metade do consumo calórico.
   Portanto, aquilo que todas estas formas de alimentação predominante de uma era anterior à invenção da agricultura têm em comum, é a ausência de alimentos processados, produtos que tenham sido refinados,lacticínios, grãos e a ausência de açúcar.
(claro que um plano alimentar Paleo envolve muito mais do que isto, quero apenas que não se sintam tão perdidos ao lerem este post)
Diga-se de passagem, que esta é também a minha opinião sobre este modo de alimentação. Acho que deve ser ajustada a cada individuo. Sempre de acordo com o estilo de vida, objetivos e atividade física.
 É IMPOSSIVEL alimentarmo-nos todos da mesma forma.

 Por outro lado, numa dieta Paleolítica não há restrição em termos de doses, pode-se comer até não poder mais, sempre sem horários predefinidos.
Carnes, peixe, vegetais que cresçam acima do solo, gorduras naturais como o coco, azeite, manteiga, os ovos, sementes, as frutas vermelhas ou silvestres, são a base de uma possível alimentação Paleo.

É bem sabido por todos que a Diabetes tipo II é uma consequência da resistência à insulina. É um distúrbio metabólico caracterizado pelo elevado nível de glicose no sangue.

As pessoas que sofrem de diabetes tipo II até produzem insulina, entretanto, o corpo destes doentes não responde como seria suposto à ação da mesma, não a utilizando corretamente. Também pode acontecer, que um doente com este tipo de Diabetes não produza insulina suficiente para suprir as demandas do seu corpo.
Resultado:
A insulina não consegue colocar todo o açúcar dentro das células, acabando ( o açúcar ), por se acumular no sangue.

Quando se sofre desta patologia, os adipócitos que são as células de gordura e os hepatócitos que são as células do fígado, não respondem na melhor forma à insulina, por isso o açúcar não entra nessas ditas células, ficando-se pela corrente sanguínea.
O adipócito é uma célula que guarda gordura, quando ela é sensível à insulina, significa que está a reconhecer a glicose circulante, fazendo então ativar certos mecanismos de "poupança", ou melhor, essa célula não retira a gordura de dentro dela para disponibiliza-la ao corpo como forma de energia. Quando o adipócito é resistente à ação da insulina, ele não reconhece a glicose circulante e entende que o organismo está com falta de energia. Com este mecanismo, é libertada a gordura existente no interior do adipócito para o sangue.
 É devido a este processo, que o paciente que sofre de diabetes para além de ter glicose elevada, pode também sofrer de colesterol elevado.
Os hepatócitos também funcionam de uma forma muito semelhante, quando são sensíveis à ação da insulina, absorvem glicose e guardam-na.
Quando são resistentes, eles não reconhecem a glicose elevada no sangue, entendendo que existe carência, acabando por liberta-la em maiores quantidades para o sangue, agravando assim todo o processo.

"O organismo entra num ciclo vicioso aumentando a insulinémia sem diminuir a glicémia" ( Barata and Lisboa, 1997; Eriksson, Taimela et al. , 1997 )

" Por outro lado a hiperinsulinémia estimula a síntese de triglicéridos a partir dos ácidos gordos, nos adipócitos. Conduz a obesidade que em si é um fator de insulinorresistência" ( Barata and Lisboa, 1997; Eriksson, Taimela et al. 1997 )

Acho que hoje em dia já é do conhecimento geral que a Diabetes tipo II está diretamente correlacionada com o aumento de peso / obesidade.
Como já falámos aqui no Blog, a Obesidade, é uma doença inflamatória, o caminho para a sua resolução passa diretamente por uma alimentação sem produtos que têm esse efeito no organismo, o efeito INFLAMATÓRIO.
Claro que estou a falar do glúten, produtos láteos e sacarose, os mesmos produtos que não eram utilizados numa era anterior à agricultura, atualmente retratada como alimentação Paleolítica, que na minha humilde opinião apresenta algumas parecenças com uma dieta Low Carb.


" A Palaeolithic diet improves glucose tolerance more than a mediterranean-like diet individuals with ischaemic heart disease "
Lindeberg S, Jönsson T, Granfelgt Y , Borgstrand E, Soffman J, Sjöström K, Ahrén B.
Diabetologia 2007 Set; 50(9);1795-807. Epub2007 Jun 22

- Neste estudo Sueco  pretendeu-se comparar uma dieta disponível durante a evolução humana, numa era em que ainda não existia a agricultura, com uma alimentação mediterrânia atual
 Para tal utilizou-se 29 pacientes com doença isquémica cardíaca assim como intolerância a glucose / diabetes tipo II.
Foram formados dois grupos, no primeiro grupo (n=14) a base da alimentação foi carnes magras, peixe, fruta, vegetais, tubérculos, ovos e nozes.
No segundo grupo (n=15), a base alimentar foi grãos integrais, produtos lácticos baixos em gordura, vegetais, fruta, peixe, óleos e margarinas.
Primariamente verificou-se alterações no peso, circunferência da cintura e glucose plasmática e glucose isulinémica. Os resultados depois de 12 semanas foram uma diminuição de 26% da glucose AUC (p=0,0001) na alimentação paleolítica e de 7% (p=0,08) no grupo de consenso. Os investigadores tentaram fazer com que tanto no grupo Paleo como no grupo de alimentação mediterrânica, os participantes não tivessem bem a perceção do tipo de dieta que estavam a praticar. Sabiam apenas que estavam inseridos num grupo onde a dieta era saudável.
 Isto para que o fator motivacional não tivesse influência no resultado final do estudo. Por isso, também se denominou como grupo de consenso e não grupo controlo.
  Com este estudo, conseguiu-se encontrar uma melhoria acentuada na tolerância à glucose em pacientes com diabetes e com um aumento de glicose no sangue,  após os conselhos para seguir uma dieta paleolítica, comparativamente com uma dieta saudável ocidental.
A grande melhoria da tolerância à glicose no grupo da alimentação Paleolítica foi independente da energia consumida e da composição dos macronutrientes.
O que sugere que evitar a alimentação ocidental, é mais importante do que contar calorias, gordura, hidratos de carbono, ou mesmo proteínas. O estudo concluiu que uma dieta saudável baseada em cereais integrais  e produtos lácteos de baixo teor de gorduras não são a  melhor forma de prevenir e tratar a  diabetes tipo II.
Deixo-vos AQUI o estudo em questão, (o estudo completo está num jornal de acesso reservado por isso para quem pretender posso prontamente enviá-lo por email), assim como AQUI, AQUI, como AQUI, estão mais alguns artigos que a meu ver são bastante interessantes e esclarecedores sobre esta matéria.

Talvez esteja na hora de retirar-mos a cabeça da areia, e de uma vez por todas dar oportunidade a métodos que poderão ser uma parte da solução no combate a doenças tanto do forro inflamatório como autoimunes..

Será que ainda não se percebeu que da forma como está, não tem resultado muito bem...
As pessoas continuam obesas, a taxa de síndrome metabólica continua a aumentar, cada vez mais jovens contraem diabetes do tipo II.....




















2 comentários:

  1. Viva Álvaro, mais uma vez, óptimo artigo!

    Tenho apenas uma questão: tive curiosidade em pesquisar um pouco sobre o glúten (uma vez que abordas esse tema no artigo), e notei que existem cada vez mais estudos que comprovam que grande parte da população tem intolerância (que se pode manifestar não só por distúrbios intestinais mas também por fadiga e até mesmo depressão), apesar de não serem portadores da doença celíaca...será que podes abordar este tema num próximo post aqui no blog? :)

    Cumps,

    Ana

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    1. Olá Ana, de certo é um tema de grande importância e extremamente atual.
      Claro que vou aqui comentar este assunto, fica prometido.

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